Débora Rubin
São Paulo - Incomodado com a quantidade de garrafas PET (aquelas dos refrigerantes) jogadas pelos igarapés de Manaus, o professor de física Newton Lima decidiu aproveitá-las em um projeto acadêmico. Ele e quatro alunos do curso de engenharia civil da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) fizeram do lixo o material base de um trabalho de iniciação científica. O resultado é o "tijolo-PET", feito de areia quartzo, cimento e a garrafa.
A PET é usada inteira, fechada com a sua tampa, e envolvida pela massa de areia e cimento. Para produzi-lo, Lima e seus alunos criaram um molde de madeira. Uma vez pronto, foram realizados inúmeros testes para saber se ele resistiria em uma obra. "Os testes de resistência mostraram que, com a tampa, o tijolo dificilmente se rompe. Ficou provado que ele está dentro das normas estabelecidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)", diz o professor.
Mas a PET não serve apenas para ocupar espaço e deixar de ser lixo nos igarapés. O ar dentro da garrafa funciona como um isolante térmico, fazendo com que o tijolo seja perfeito para regiões quentes como a de Manaus, onde a temperatura facilmente ultrapassa os 40º graus.
A idéia deu tão certo que a própria Ulbra está oferecendo um curso para ensinar como fazer a fiação elétrica com o tijolo-PET. Além disso, uma aluna de arquitetura da universidade está fazendo o trabalho de conclusão de curso (TCC) sobre o tema. Seu objetivo é construir uma casa com os tijolos. Para se ter uma idéia, são necessários 1,5 mil tijolos para construir 25 metros quadrados.
Comercialização
Segundo o professor da Ulbra, já apareceram interessados na comercialização do tijolo, mas nada ainda foi feito. O interessante, para Lima, seria agregar alunos de administração da universidade que fizessem um plano de negócios para o projeto ficar ainda mais completo. "Muita gente vem aqui conhecer, quer ver como ele é, como é feito", diz o professor. "Mas ainda não há nada de concreto para fazer dele um produto comercial." O professor já entrou com o pedido de registro de patente do tijolo.
No entanto, mais que fazer do tijolo-PET um produto comercial, o sonho do professor Lima é vê-lo como peça-chave na construção de casas populares. "Aqui em Manaus, as edificações nas comunidades mais carentes são feitas de madeira, plástico e papelão. Como é fácil de fazer o tijolo, poderíamos ter mutirões construindo casas com o ele. Desse ponto de vista, é um negócio duplamente promissor", diz Lima. "Além de ajudar a diminuir o lixo dos igarapés, poderíamos construir mais casas populares."
Contato
Newton Lima
E-mail: newtonulbra@gmail.com