Revista da Escola de Enfermagem da USP

ISSN 0080-6234 versão impressa

Rev. esc. enferm. USP v.42 n.3 São Paulo set. 2008

 

ARTIGO DE REVISÃO

 

Iridologia: revisão sistemática

 

Iridología: revisión sistémica

 

 

Léia Fortes SallesI; Maria Júlia Paes da SilvaII

IEnfermeira. Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo. Especialista em Iridologia e Irisdiagnose pela Faculdade de Ciências de São Paulo e Instituto Brasileiro de Estudos Homeopáticos. São Paulo, SP, Brasil. leia.salles@usp.br
IIEnfermeira. Professora Titular do Departamento Médico-Cirúrgico da Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo (EEUSP). São Paulo, SP, Brasil. juliaps@usp.br

Correspondência

 

 


RESUMO

Este estudo é uma revisão de literatura (artigos) no período de 1970 a 2005 sobre Iridologia/ Irisdiagnose, com o objetivo de identificar o número da produção científica mundial nesta área e as opiniões sobre o método. Foram encontrados 25 artigos, sendo quatro de autores brasileiros. Quanto à categoria, 1 era revisão bibliográfica, 12 pesquisas e 12 atualizações, históricos ou editoriais. Os países que mais contribuíram com os estudos foram Brasil e Rússia. Posicionam-se a favor do método 15 artigos e 10 contra. Conclui-se que é necessário que sejam realizados estudos com pesquisas dentro do rigor metodológico sobre essa prática, uma vez que a Iridologia traz esperança na área preventiva.

Descritores: Iridologia; Terapias alternativas; Enfermagem.


RESUMEN

Este estudio es una revisión bibliográfica (artículos) durante el periodo de 1970 al 2005 con relación a la Iridología/Iris-diagnóstico, el objetivo fue identificar la producción científica mundial en el área y conocer el parecer sobre el método. Fueron encontrados 25 artículos, de los cuales cuatro de autores brasileños. En cuanto a la categoría, 1 fue de revisión bibliográfica, 12 producto de investigaciones y 12 sobre actualidad histórica y editorial. Los países que más contribuyeron con estudios fueron Brasil y Rusia. Con relación al parecer son favorables al método 15 artículos y 10 están en contra. Concluyese que es necesario realizar estudios con rigor metodológico, pues la iridología brinda esperanzas dentro del área preventiva.

Descriptores: Iridología; Terapias alternativas; Enfermería.


 

 

INTRODUÇÃO

O panorama da saúde em todo planeta é preocupante. A medicina tradicional e os sistemas de saúde não têm conseguido suprir as necessidades das populações. Os sistemas de saúde em geral são morosos e desprovidos de recursos financeiros, humanos e materiais. Os exames mais modernos e os melhores remédios são inacessíveis para a maioria das pessoas.

Cada vez mais as pessoas procuram alternativas que aliviem as suas dores, sem serem tão caras e nem trazerem tantos efeitos colaterais. Elas esperam pelo olhar holístico, que a medicina tradicional já não tem mais, uma vez que se tornou tão fragmentada pelas especializações. Pode-se constatar isso, na crescente busca por profissionais com formação em terapias complementares. Os motivos que mais levam os pacientes a buscar estas terapias são: a procura da promoção da saúde e prevenção da doença, por ser benéfica também para o emocional e espiritual, porque a efetividade da medicina convencional é indeterminada ou comumente é associada a efeitos colaterais e riscos, ou quando os recursos tradicionais esgotaram para determinada condição patológica(1).

Muitos profissionais das áreas da saúde começam a estudar algum tipo de terapia complementar para que possam, juntamente com a sua área de origem, melhorar a assistência prestada ao paciente. Atendendo a esta necessidade muitos estabelecimentos de ensino superior lançam cursos nessas áreas.

Um dos grandes problemas que o profissional de saúde que se especializou em alguma terapia complementar enfrenta é a resistência dos seus pares, que esquecem que é sadio respeitar as diferenças e que a dualidade reside no e e o confronto no ou. Quem utiliza as terapias complementares defende que elas sejam utilizadas juntamente com a medicina tradicional e não em substituição a mesma.

Os enfermeiros mostram-se maleáveis em relação ao assunto. Procuram conhecer as terapias em questão, recomendam-nas e até as utilizam em si próprios(2). A maioria dos médicos mais jovens reconhece as terapias complementares, mas debatem-se entre recomendá-la ou não, uma vez que o Conselho Regional de Medicina não as reconhece, exceção feita à homeopatia e à acupuntura, que também já foram alvos de críticas dos próprios médicos, que agora lutam para que elas sejam somente suas especialidades(3).

Em 1994, estudou-se a utilização das terapias complementares pelas enfermeiras brasileiras e concluiu-se que o número de adeptos era pequeno, relacionando-se o fato à falta de legislação que autorizasse aos enfermeiros o seu uso(4). Em 1997, o COFEN através da Resolução 197, reconhece Enfermeiros especialistas em práticas complementares à saúde, desde que cumpridas as exigências do Ministério da Educação para os cursos de especialização(5). Em 2004, a Prefeitura de São Paulo através da Lei 13.717, dispõe sobre a implementação das Terapias Naturais na Secretaria Municipal de Saúde, dentre elas Irisdiagnose, o que reforça a credibilidade no método(6).

Mas, ainda poucos são os enfermeiros que se lançam a estes estudos. Isto se deve ao tipo de formação recebida na graduação pautada no modelo biomédico de assistência, e também ao tempo e aos recursos financeiros necessários para uma sólida formação nestas terapias(7).

A Írisdiagnose é uma ciência que permite conhecer através da íris aspectos físicos, emocionais e mentais do individuo. Quanto mais irregularidades aparecerem no sedoso tecido da íris, tanto menor a vitalidade, menor a resistência e mais longe se estará do bem estar. A Irisdiagnose permite abordagem propedêutica, profilática e terapêutica e tem como principal objetivo detectar distúrbios em evolução e precocemente intervir para que tal distúrbio não evolua para a doença(8). O maior trunfo da Irisdiagnose está na prevenção das doenças, uma vez que antes mesmo do indivíduo apresentar sintomatologia, é possível ao iridologista detectar sinais de comprometimentos e utilizar meios para manter a homeostase do organismo, evitando que ele adoeça(9).

A Enfermagem oferece serviços de saúde que são orientados no sentido de providenciar cuidados que promovem, protegem, recuperam e reabilitam a saúde. O enfermeiro busca conhecimentos em muitas disciplinas; absorve delas as informações de que precisa para o seu trabalho de cuidar do paciente(10).

Para um enfermeiro especialista em Iridisdiagnose, a observação e a análise da íris deve fazer parte do exame clínico e o resultado nortear o processo de enfermagem, pois conta com uma ferramenta a mais para conhecer o paciente/cliente(11).

Existem pesquisadores brasileiros que compartilham desta opinião(12). A Iridologia, mesmo sendo uma ciência multidisciplinar e relativamente nova, não faz diagnóstico, mas corrobora para a visão holística do Ser.

Ainda estamos engatinhando, mas tudo leva a crer que a Iridologia, associada à queixa do paciente e ao exame físico, auxiliará sobremaneira a Enfermagem a direcionar de uma maneira mais individualizada a abordagem ao paciente, melhorando a qualidade do atendimento(12).

Autores também afirmam que a medicina preventiva é a grande oportunidade de uma melhora do homem como espécie, pois os bons hábitos geram saúde, e essa saúde conquistada será transmitida de geração em geração(13). A prevenção é a medicina do futuro e os gastos feitos com a saúde têm maior retorno que aqueles feitos com a doença. É justamente na medicina preventiva que se encontra o segredo da boa saúde, em todos seus aspectos, gerando a longevidade, melhores condições e qualidade de vida(13).

O principal objetivo da Iridologia é a prevenção. Ocorre que as opiniões sobre o método são divididas. Este artigo tem o objetivo de levantar o que já se escreveu sobre Iridologia/ Irisdiagnose em artigos científicos e descrever as opiniões sobre o método.

 

MÉTODO

Trata-se de um estudo descritivo, exploratório e de abordagem quantitativa. Ele foi feito através de levantamento bibliográfico, utilizando-se as seguintes bases de dados: EMBASE, PubMed/ MEDLINE, LILACS, PeriEnf e no Banco de Dados Bibliográficos da USP - DEDALUS. Os descritores utilizados para a localização das referências foram Iridologia (DeCs), Iridology (MeSH).

Os critérios de inclusão para análise foram:

• Tipo de publicação: artigos em periódicos.

• Em qualquer idioma, porém com abstract em inglês, português, espanhol ou francês.

• Ano de publicação: período de 1970 a 2005.

• Artigos com abstract.

Os critérios de exclusão foram:

• Artigos sem abstract ou com ele em outra língua que não inglês, português, espanhol ou francês.

• Artigos que tratavam de várias terapias complementares, não especificamente de Iridologia.

O motivo da exclusão deste último item deve-se ao fato das autoras entenderem que quando alguém se propõe a analisar algum assunto deve conhecê-lo bem, e que artigos citando todos os tipos de terapias complementares certamente não condizem com este pensamento.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas bases de dados foram encontrados um total de 50 artigos indexados com as palavras iridologia/ iridology. Após avaliação dos critérios de inclusão, artigos com abstract e com assunto específico de iridologia, restaram apenas 25 artigos, que irão compor os resultados deste trabalho.

Como retrata a Tabela 1, foram encontradas 25 publicações em periódicos. Deste total, somente 1 era revisão sistemática, 12 pesquisas, 12 entravam nas categorias de editorial, atualização ou histórico. Os países que contribuíram com publicações foram Brasil, Rússia, Inglaterra, França, Estados Unidos, Coréia do Sul, Dinamarca, Alemanha, Suíça, Austrália, Nova Zelândia, Ucrânia, China e Romênia.

Sobre as opiniões, encontrou-se 10 artigos posicionando-se contra o método e 15 posicionando-se a favor, conforme se pode observar na Tabela 2.

O único artigo de revisão sistemática em Iridologia foi escrito em 1999, por Ernest E., da Inglaterra. E ele é alvo de uma reflexão, publicada por uma revista Francesa de Oftalmologia, que tende a concordar com as conclusões do primeiro artigo, embora ache difícil avaliar a situação e chegar a uma conclusão, uma vez que existem poucos estudos sobre o assunto. Ressalta ainda, que a Iridologia tem um importante crescimento e que são necessárias novas pesquisas sobre o método.

Esta revisão foi baseada em apenas 4 literaturas, embora o artigo Francês relate que até 1998 já existiam 67 artigos publicados sobre a confiabilidade da Iridologia. A maioria é a favor do método, porém com uma metodologia científica questionável e 4 contra com uma pesquisa irrepreensível no plano metodológico.

Um artigo russo mostra o crescente uso da iridologia por enfermeiros e médicos oftalmologistas e a necessidade de atualização para maior conhecimento sobre o método.

A maioria dos artigos com opiniões negativas sobre o método afirma que a Iridologia não se mostrou habilitada para fazer este ou aquele diagnóstico. Porém, quem conhece o método, sabe que a Iridologia não faz diagnóstico e sim mostra os órgãos mais debilitados e que têm maior propensão em adoecer. Após esta pré-diagnose o paciente deve realizar exames para se chegar à conclusão do diagnóstico.

Notou-se um maior número de publicações a partir de 2000, conforme se pode observar na Tabela 3. Isso coincide com o panorama mundial de aumento na busca de terapias complementares.

Dentre os recursos utilizados, o Banco de Dados Bibliográficos da USP - DEDALUS e a base de dados PeriEnf foram os que mais contribuíram para a busca na literatura nacional, uma vez que os artigos nacionais não estão indexados no PubMed/MEDLINE e EMBASE.

Dos quatro artigos brasileiros, três foram escritos por enfermeiros e um por médico. Destes, três foram publicados na Revista Nursing - edição brasileira, indexada na base LILACS, com o título Nursing (São Paulo) e um na Revista de Homeopatia, como mostra a Tabela 4.

No Brasil, o único Curso de especialização para profissionais da área da Saúde em Iridologia e Irisdiagnose é ministrado Pelo Instituto de Estudos Homeopáticos em conjunto com a Faculdade de Ciências de São Paulo.

Pode-se comprovar que a Enfermagem Brasileira está atenta para as novas tendências, quando palestrantes são convidados a falar sobre Iridologia em escolas de graduação e de nível médio em Enfermagem, congressos, jornadas e seminários, além do espaço que as revistas nacionais de Enfermagem estão abrindo para o assunto.

 

CONCLUSÃO

Conclui-se que existe um número muito reduzido de literatura sobre o assunto e que dentre as encontradas, somente a metade é baseada em pesquisa, nem sempre com uma metodologia adequada. A única revisão sobre o assunto se baseia em apenas 4 literaturas. Porém, o assunto está aí e divide opiniões.

A Iridologia traz uma esperança para o panorama atual em que se encontra a saúde. A medicina preventiva precisa ser reforçada. Logo, faz-se necessários novos estudos sobre o assunto. Estudos sérios, com rigor metodológico, que mostrem ou não a eficácia do método.

Não é aceitável que a intolerância prevaleça sobre a necessidade real de melhorarmos a assistência prestada aos pacientes. E, se este método for bom, deve ser incluído como ferramenta para somar com a medicina tradicional, assim como muitas outras práticas complementares já o fazem e muito bem feito.

 

REFERÊNCIAS

1. Eisenberg DM, Kessler RC, Foster C, Norlock FE, Calkins DR, Delbanco TL. Unconventional medicine in the United States: prevalence, costs, and patterns of use. N Engl J Med. 1993; 328(4):246-52.         [ Links ]

2. Trovo MM, Silva MJP, Leão ER. Terapias alternativas/complementares no ensino público e privado: análise do conhecimento dos acadêmicos de Enfermagem. Rev Lat Am Enferm. 2003;11(4):483-9.         [ Links ]

3. Akiyema K. Práticas não-convencionais em medicina no Município de São Paulo [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2004.         [ Links ]

4. Barbosa MA. A utilização de terapias alternativas por enfermeiros brasileiros [tese]. São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 1994.         [ Links ]

5. Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (COREn-SP). Documentos básicos de enfermagem. São Paulo; 2001. p.159-60.         [ Links ]

6. São Paulo (Cidade). Lei 13.717, de 08 de Janeiro de 2004. Dispõe sobre a implantação das terapias naturais na Secretaria Municipal de Saúde [legislação na Internet]. São Paulo; 2004. [citado 2005 ago. 10]. Disponível em: http://www3.prefeitura.sp.gov.br/cadlem/secretarias/negocios_juridicos/cadlem/pesqnumero.asp?t=L&n=13717 &a=&s=&var=0        [ Links ]

7. Dobbro ERL. A música como terapia complementar no cuidado de mulheres com fibromialgia [tese]. São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 1998.         [ Links ]

8. Batello CF. Iridologia e Irisdiagnose: o que os olhos podem revelar. São Paulo: Ground; 1999.         [ Links ]

9. Salles LF. Epidemiologia dos anéis de tensão [monografia]. São Paulo: Instituto Brasileiro de Estudos Homeopáticos - IBEHE; 2003.         [ Links ]

10. Fuerst EV, Wolff LV, Weitzel MH. Fundamentos de enfermagem. 5ª ed. Rio de Janeiro: Interamericana; 1977.         [ Links ]

11. Salles LF, Silva MJP. Aincidência dos anéis de tensão na íris de pessoas que vivem em São Paulo. Nursing (São Paulo). 2004;8(81):86-90.         [ Links ]

12. Reganin EC. A Iridologia como instrumento facilitador no processo de enfermagem. Nursing (São Paulo). 1999;2(12):8.         [ Links ]

13. Beringhs L. Vida saudável pela Iridologia. São Paulo: Robe; 1997.         [ Links ]

 

 

Correspondência:
Léia Fortes Salles
Rua Tucuna, 742 - Apto. 132 - Pompéia
CEP 05021-010 - São Paulo, SP, Brasil

Recebido: 26/06/2006
Aprovado: 31/10/2006