O mercado brasileiro de sopro é comandado por uma prestação
de serviços a terceiros que demanda intensa troca de moldes. Esta
peculiaridade tem convergido para a inclinação generalizada
por máquinas e matrizes de maiores dimensões, além
da busca de mais embalagens obtidas no ciclo. Em decorrência, ganham
força, como atalho para a produtividade, os investimentos em automação
nesse universo avaliado em 400 transformadores que operam um parque da
ordem de 7.000 sopradoras, mobilizando em média 25% do consumo nacional
de resinas.
Entre os transformadores com linhas dedicadas a determinado produto
- o contingente minoritário no segmento brasileiro de sopro -, a
interferência manual no processo já foi reduzida aos padrões
internacionais e os modelos operacionais são seguidores fiéis
dos esquemas vigentes no mundo industrializado. Esse perfil tem sido fortalecido,
inclusive, pela ação de grandes transformadores transnacionais
que, tentados pela estabilidade econômica e a regularidade com que
o consumo deslancha, desembarcam no Brasil na condição de
fornecedores global sources. É o que se vê, por exemplo, no
sopro de tanques de combustível para carros como o Ford Fiesta,
ou então, no suprimento in house (contíguo à linha
de envase) de embalagens como frascos de óleo lubrificante com visor
de nível ou garrafas de refrigerante.
Aliado ao cenário de inflação domada, a abertura
mantida para matérias-primas e equipamentos sem similares locais
tem propiciado uma autonomia tecnológica de grau inédito
para os transformadores de sopro no país. Hoje em dia, o segmento
transita com desenvoltura por recipientes convencionais e complexos de
todos os tamanhos. Na raia dos tipos tradicionais, por exemplo, toma vulto
entre os produtos ditos de alto giro a oferta de frascos de polietileno
de alta densidade (PEAD) antes dirigidos a leite B e hoje bem sucedidos
em sucos de frutas de consumo imediato, abocanhando boas fatias do mercado
dominado por embalagens longa vida. Da mesma forma, promete intensificar-se
a penetração de garrafas para água mineral, sopradas
com policloreto de vinila (PVC) aditivado para essa aplicação.
Os transformadores de PVC, por sinal, dominam o suprimento da embalagem
de um litro para fontes de água mineral no país, apesar do
assédio constante da concorrência adepta de materiais como
PEAD e polietileno tereftlato (PET). No âmbito das embalagens maiores
para esse mesmo mercado, os convertedores de PVC duelam com garrafões
de água soprados com copolímero random de polipropileno (PP),
cujo principal chamariz é o preço. Ambas as alternativas
permanecem corpos atrás de policarbonato (PC), a resina cuja transparência
e resistência mecânica têm assegurado a seus transformadores
a liderança no nicho em questão, tendência aliás
mundial. Ainda no compartimento dos recipientes diferenciados ou de grandes
dimensões, as indústrias de sopro sinalizam no Brasil a escalada
de bombonas e tambores produzidos com copolímeros bimodais de PEAD,
que proporcionam leveza superior aos índices aferidos com grades
convencionais, e garrafas descartáveis de carbonatados derivadas
de pré-formas de PET virgem co-injetado com reciclo.
O time crescente de transformadores de PET, por sinal, constitui
capítulo à parte no segmento nacional de sopro. Na esteira
dos saltos gigantescos do consumo do poliéster, acompanhados por
sucessivas ampliações da capacidade nacional, foram deflagrados
investimentos de peso na moldagem da resina, em especial pelo processo
mundialmente dominante, de sopro por injeção de pré-forma.
Dois dos maiores transformadores locais de PET, aliás, resultaram
de verticalização na moldagem efetuada pelos principais produtores
da resina grau garrafa no país.
O mote por excelência dessas investidas é a condição
do Brasil como terceiro mercado de colas do planeta, mas também
decola gradualmente o aproveitamento de PET para soprar produtos de massa,
como frascos de óleo vegetal e água mineral, ou embalagens
personalizadas para bebidas que vão de água de coco a energizantes.
Pela mesma trilha, prometem enveredar a transformação do
poliéster para envase a quente (hot fill), já aprovada em
alimentos como maionese, e a moldagem do grade (sem produção
interna) adequado ao sopro por extrusão contínua, indicado
para frascos de design complexo e de corridas menores, casos de fármacos
e cosméticos. Até o momento, a trajetória do sopro
de PET no Brasil só derrapou no insucesso das garrafas retornáveis
de refrigerantes, em função de um consumidor final mais receptivo
à embalagem descartável. Em contrapartida, cervejarias e
transformadores de sopro já se debruçam no Brasil, engrossando
uma corrente global, sobre as possibilidades do blend PET/ polietileno
naftalato (PEN) como alternativa aos recipientes de vidro ou lata, devido
à resistência oferecida ao processo de pasteurização.