Elas são símbolo de fartura e de fertilidade da terra,
traduzem a riqueza e a diversidade de um país tropical. Desde o
tempo dos nossos avós ouvimos falar que comer frutas faz bem à
saúde. Agora, a ciência comprova que as frutas são
fonte de vitaminas, proteínas, sais minerais, fibras, antioxidantes.
Um saboroso coquetel na prevenção e no tratamento de doenças.
Mas quem come frutas pensando apenas nas propriedades que elas têm?
Cada uma guarda forma, cor, cheiro diferentes. Algumas são tão
antigas quanto a história da humanidade, do tempo de Adão
e Eva e do pecado original. Uma pode trazer lembranças da infância;
outra, um novo gosto a ser descoberto.
A aposentada Ernestina Ferreira redescobriu nas
frutas o gosto de viver.
"A gente compra uma mais durinhas e outras mais verdinhas, para serem
consumidos
depois", ensina a aposentada.
Ela mora em Gravataí, região metropolitana de Porto
Alegre,
e, como a maioria dos brasileiros, comia frutas, só de vez em quando.
Há dois anos, com onze quilos a mais de peso, dona Ernestina procurou
os médicos do Departamento de Geriatria da Pontifícia Universidade
Católica de Porto Alegre. Não se sentia nada bem. Estava
com o colesterol alto, sofria com dores nas articulações,
tomava antidepressivos e tinha problemas de digestão.
"Eu dormia e passava muito mal. Havia noites que eu
achava que até
não amanheceria viva. Tinha pesadelos horríveis por
causa da janta. Comia feijão, arroz, carne, batata, aipim, enfim,
tudo", conta dona Ernestina.
A mudança na vida de dona Ernestina começou no
consultório.
Ela estava entre as 350 pessoas com mais de 60 anos que foram alvo de
um
estudo sobre hábitos alimentares. A conclusão foi surpreendente:
"Constatamos que as pessoas que têm uma alimentação
saudável, principalmente as que comem mais frutas e verduras, têm
até três vezes menos chances de desenvolver uma doença
cardiovascular, um câncer, do
que uma pessoa que não tem esse hábito", revela a geriatra
Gislaine Flores, da PUC do Rio Grande do Sul.
O desafio de geriatras e nutricionistas era melhorar
a vida de quem
comia de forma pouco saudável. Foi um trabalho minucioso. A
nutricionista
Josiane Siviero preparou um cardápio especial: reduziu alimentos
calóricos, como frituras e doces, e incluiu pelo menos três
frutas e dois vegetais por dia, que é a orientação
da Organização Mundial da Saúde (OMS).
"Esses alimentos contemplam certos nutrientes que só
eles contém",
diz a médica.
Aos poucos, dona Ernestina e os outros idosos foram
incorporando as
frutas à alimentação. Aprenderam a gostar, a variar
e a usar as frutas como remédio.
"Gosto mais da banana. Todos os dias como uma
bananinha", conta a dona
de casa Cládis de Mello.
"Eu emagreci oito quilos depois que diminui os
farináceos e comecei
a comer frutas e legumes. A disposição melhorou, a digestão
também, e o intestino foi regularizado. Nunca mais tive dor de cabeça.
Não tomo remédio nenhum, meu remédio são as
frutas", diz a aposentada Raquel Oliveira Rech.
A nutricionista também deu conselhos importantes ao
grupo, como
comer devagar e várias vezes ao dia.
"O ideal são seis refeições por dia. Antes, eles
faziam três", diz Josiane.
O resultado da nova dieta foi animador. Em três
anos, 75% dos
idosos emagreceram e tiveram diminuição do colesterol ruim
no sangue.
"Eles perderam bastante peso e começaram a se sentir
psicologicamente
muito melhor. No exame clínico, a gente observou essa melhora",
conta a geriatra Gislaine Flores.
"Sinto que minha vida mudou bastante, minha
disposição
melhorou muito, meu ânimo de andar, de trabalhar, e a minha mente
também. Sinto que sou outra pessoa, não aquela que estava
quase com a mente apagada", diz dona Ernestina.
Data Edição: 29/03/04
Fonte: Globo Reporter