Alimentos transgênicos
invadem o Brasil
Testes de plantas com genes modificados, polêmicas no
mundo todo, avançam em 48 lavouras
PABLO PEREIRA
Os brasileiros podem passar a ter nos próximos dois anos uma nova
variedade de produtos de cama e mesa. São alimentos e peças
de vestuário que vão da broa de milho ao lençol de
algodão feitos à base de plantas transgênicas, criadas
com alterações genéticas em laboratório e objeto
de polêmica no mundo todo .
As experiências com esse tipo de planta no Brasil já estão
avançadas em 48 lavouras nos Estados de São Paulo, Minas
Gerais, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul. O lançamento
comercial das sementes desses organismos geneticamente modificados (OGMs)
está sendo planejado pelas empresas que investem na pesquisa para
a safra de 1999/2000.
Pelo menos 35 empresas e instituições de pesquisa já
obtiveram o Certificado de Qualidade em Biossegurança (CQB) na Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), criada em 1995.
Os CQBs foram concedidos a partir de novembro de 1996.
A corrida pelo controle da tecnologia para produção dos transgênicos
no País cresceu nos últimos meses. Dos 35 CQBs fornecidos,
27 foram liberados em 1997. A CTNBio já autorizou o plantio de sementes
alteradas em 48 áreas diferentes. As principais empresas com autorização
para plantio de OGMs são Monsanto e AgrEvo.
A Monsanto tem 5 milhões de hectares de soja com alteração
genética plantados nos Estados Unidos, além de algodão,
milho e canola. No Canadá, o grupo pesquisa canola e trigo transgênicos.
A empresa produz ainda beterraba com alteração genética
na Europa.
No Brasil, a Monsanto analisa soja resistente ao herbicida Roundup. A CTNBio
liberou a experiência com soja portadora do gene de bactéria
Agrobacterium sp, que codifica a enzina EPSPS. A enzima é responsável
pela resistência da planta ao herbicida.
O projeto, inicialmente previsto para plantio em Palmeira (PR), foi transferido
para Goiatuba (GO). A empresa alegou que a época na qual houve a
liberação - fevereiro do ano passado - era inadequada para
o plantio na área da Monsoy, empresa do grupo Monsanto, no Paraná.
O novo protocolo foi autorizado em maio.
A Monsoy controla ainda uma liberação planejada no ambiente
de milho com gene CrylA(b), derivado da bactéria Bacillus thuringiensis
(Bt). Essa alteração permite a resistência ao ataque
de insetos, como a lagarta do cartucho. Segundo o engenheiro agrônomo
Luiz Antônio Abramides do Val, diretor de regulamentação
da Monsanto, a plantação está "com duas semanas" e
está sendo observada numa área de 1,2 hectare. Mas o projeto
será ampliado este ano. A próxima avaliação
de soja e milho da Monsanto será dividida em duas áreas no
Paraná e em Goiás. Serão plantados 108 hectares de
culturas transgênicas.
Para a AgrEvo, a CTNBio acatou solicitação em março.
A AgrEvo foi criada pela união da Hoechst com a Schering para desenvolver
projetos de pesquisa no País nessa área. O grupo investe
U$ 50 milhões nos estudos e é o 4ª maior produtor de
hortaliças do mundo. O vegetal estudado na lavoura de meio hectare
da AgrEvo é o milho com o gene phosphinotricin-acetil-tranferase
(PAT), que confere tolerância ao herbicida glufosinato de amônio.
O campo de prova fica na Rodovia General Tavares de Souza, em Cosmópolis
(SP). Na estação experimental da AgrEvo, o milho está
na espiga, quase em fase de colheita.
Sem perder tempo, empresas como Novartis Seeds (antiga Ciba Sementes),
Copersucar, Pioneer, Agroceres e Cargill também estão no
mesmo caminho. As experiências de transferência de genes da
Novartis com milho estão autorizadas para Uberlândia (MG).
A Novartis pesquisa o mesmo gene CrylA(b), isolado do Bacillus thuringiensis
(Bt), além de outro gene, da bactéria Streptomyces viridochromogenes.
Este último dá ao milharal tolerância a herbicida.
De acordo com técnicos da Monsanto e da AgrEvo, a manipulação
dos genes torna as plantas resistentes a insetos ou tolerantes a herbicidas,
aumentando o rendimento das culturas em torno de 15% a 30%. Esse rendimento
poderá aumentar também a produção de açúcar
e álcool. Na região de Piracicaba, a Cooperativa de Produtores
de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo
(Copersucar) tenta conseguir cana-de-açúcar tolerante a veneno
que combate ervas daninhas. A Copersucar tem aprovação para
plantio de 2.500 mudas de cana com os genes PAT e NTP numa área
de 1.750 metros quadrados.
Mas a intervenção nos cromossomos das plantas não
está ocorrendo somente com grãos que são transformados
em ração animal ou na composição de alimentos
humanos como bolos, biscoitos, broas ou sorvetes. A CTNBio aceitou também
pedido de pesquisa da Profigen do Brasil, que trabalha com fumo transgênico.
A Profigen desenvolve um tipo de tabaco com resistência aos vírus
"Tomato Spotted Wilt Vírus" (TSWV) e "Potato Vírus Y" (PVY)
. O projeto foi liberado em junho, com execução prevista
para Santa Cruz do Sul (RS). "A biotecnologia será uma ferramenta
poderosa nas próximas décadas no melhoramento da produção
agrícola", afirmou André Abreu, agrônomo coordenador
de biotecnologia da AgroEvo.
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