Alfa-Feto Proteína (AFP) é normalmente produzida pelo
feto em desenvolvimento. A produção da AFP cai para um nível
baixo depois do nascimento e permanece baixa em crianças e adultos
saudáveis. Um nível elevado de AFP sugere fortemente a presença
ou de um câncer primário de fígado (carcinoma hepatocelular)
ou câncer de célula germe de ovário ou testículo
(câncer que começa nas células que dão crescimento
aos óvulos e aos espermas). Apenas raramente pacientes com outros
tipos de câncer apresentam níveis elevados de AFP. Todavia,
níveis podem estar acima do normal em pessoas que apresentam condição
benigna do fígado como cirrose ou hepatite. AFP é uma proteína
oncofetal inicialmente identificada por Abelev e cols., em 1963, em ratos
com hepatoma transplantados. Ela foi posteriormente identificada no soro
de pacientes portadores de carcinoma hepatocelular. Trata-se de uma glicoproteína
com peso molecular de 70 kd e 4% de carboidrato. É a principal proteína
fetal, atingindo o pico de 2 a 3 mg/l na 14ª semana de gestação
e declinando para 5 a 100 microgramas/l à época do nascimento.
Estes níveis caem rapidamente para o nível normal do adulto
(< 25 microgramas/l entre o 6º e o 10º mês de vida).
A meia-vida sérica da AFP é de 3,4 a 6 dias e pode ser utilizada
para predição do tempo de normalização após
ressecção completa de tumores que secretam AFP. Níveis
séricos elevados de AFP são observados em pacientes com doenças
hepáticas, particularmente carcinoma hepatocelular, e em neoplasias
malignas derivadas do saco embrionário. Elevações
discretas a moderadas (< 200 microgramas/l) são vistas em 10
a 35% dos pacientes com doenças hepáticas não malignas
como cirrose e hepatite. Níveis séricos superiores a 500
microgramas/l são virtualmente diagnóstico de tumor, embora
algumas poucas exceções tenham sido relatadas em necrose
hepática sub-aguda. Após ressecção curativa
para carcinoma hepatocelular os níveis séricos de AFP retornam
ao normal; elevações persistentes geralmente representam
doença residual.
Níveis elevados (> 10 microgramas/l)
ao diagnóstico, juntamente com bilirrubina > 1 mg/dl estão
associados a degeneração hepática.
AFP é um dos poucos marcadores tumorais que têm sido utilizados
com sucesso para triagem de paciente de alto risco para câncer. Estudos
japoneses mostraram uma sobrevida em 3 anos igual a 57% para portadores
de câncer hepatocelular ressecável diagnosticado por triagem
com AFP comparada a sobrevida de 5% para pacientes que se apresentaram
com sintomas.
O papel da AFP em tumores de células germinativas depende largamente
do uso combinado de AFP e ß-hCG, um hormônio glicoprotéico
de 45 kd, secretado pelo sinciciotrofoblasto placentário e que está
normalmente presente apenas durante a gravidez. Ele contém duas
subunidades, a cadeia beta exclusiva e a cadeia alfa que tem semelhança
estrutural com o hormônio luteinizante humano. A meia vida do ß-hCG
varia de 12 a 20 horas e os níveis séricos normais são
inferiores a 1 ng/ml. Aproximadamente 10% dos pacientes com doença
inflamatória do intestino, úlceras duodenais, e cirrose podem
tem níveis elevados de ß-hCG. Entre 10% e 40% de outros tumores
como os de pulmão, mama, trato gastrointestinal, ovário,
melanoma e doenças linfoproliferativas podem estar associados ao
aumento do ß-hCG. Todos os tumores trofoblásticos têm
níveis elevados de ß-hCG. A utilidade clínica deste
marcador para estes tumores é excelente, com aproximadamente 100%
de sensibilidade e especificidade para diagnóstico, correlação
definida com resposta e predição de metástases ocultas
e recidiva após tratamento. Os tumores de células germinativas
podem ser predominantemente de um tipo celular ou compostos por uma combinação
de tipos celulares; são classificados como: seminomatosos e não
seminomatosos(carcinoma embrionário, teratoma, coriocarcinoma, tumor
do seio endodérmico). Os níveis de AFP e ß-hCG estão
simultaneamente elevados em tumores do saco embrionário e nos carcinomas
embrionários. ß-hCG está elevada em todos os casos
de coriocarcinoma e em 10% a 30% dos casos de seminoma. Embora AFP e ß-hCG
não sejam úteis para triagem de pacientes com tumores de
células germinativas, sua utilização é bem
estabelecida para diagnóstico, estadiamento e monitoramento. Em
tumores de células germinativas não seminomatosos, níveis
elevados de ß-hCG e AFP se correlacionam com a extensão da
doença. Um ou ambos marcadores são dispositivos em 50% dos
estadios A (tumor confinado ao testículo), 40% a 65% no estadio
B1 (comprometimento retroperitoneal microscópico de < 5 linfonodos),
80% estadio B2 e B3 (doença retroperitoneal volumosa) e 90% estadio
C (doença além do retroperitônio). Pacientes com níveis
muitos elevados dos marcadores têm pior prognóstico. Após
ressecção cirúrgica da doença primária
ou metastática espera-se queda dos níveis séricos
dos marcadores; se esta queda não for observada, existe forte suspeita
de doença residual. Da mesma forma, respostas à quimioterapia
são acompanhadas de redução dos níveis dos
marcadores. Caso não ocorra redução do ß-hCG
até o dia 22 da quimioterapia com PVB (Cisplatina, Vimblastina e
Bleomicina) ou o nível nesta data não seja inferior a 1/200
aquele do dia 1, estaremos diante de uma resposta incompleta. Pacientes
com níveis normais dos marcadores após tratamento e massa
residual podem ter tumor residual em um terço dos casos. Elevação
persistente do marcador é invariavelmente resultado de câncer
residual. Níveis crescentes podem ocorrer antes ou após recidiva
clínica e um marcador pode se elevar em discordância com outro,
a despeito da elevação de ambos na época do diagnóstico.
Uma discreta elevação de ß-hCG pode ocasionalmente
ser falsa, devido à reação cruzada da subunidade beta
de ß-hCG com o hormônio luteinizante, que pode estar elevado
após orquiectomia. A elevação falsa da ß-hCG
torna-se clara quando o hormônio luteinizante é suprimido
através da administração de testosterona.
A AFP Alfa-1-Fetoproteína é a principal glicoproteína
plasmática precoce do feto humano. Encontra-se elevada no soro fetal,
no soro materno e no soro de adultos com hepatomas e teratoblastomas testiculares.
Nem todos os hepatomas ou teratoblastomas produzem AFP, mas, se sintetizam,
o fazem em grandes quantidades. Nem sempre as elevações de
AFP estão associadas a malignidade; os níveis podem estar
elevados em doenças inflamatórias do fígado e intestino.
É inútil como screening por causa das significativas elevações
em condições benignas.