1- Cintilografia de Tireóide
O tecnécio-99m é captado pelo mesmo mecanismo de transporte ativo que o iodo, não sendo entretanto organificado e utilizado para a síntese hormonal como o iodo. As imagens cintilográficas são adquiridas nas incidências anterior e oblíquas entre 10 e 30 minutos após a injeção de pertecnetato-Tc99m e permitem a avaliação morfo-funcional da glândula, muitas vezes complementando dados clínicos ou ultrassonográficos. São habitualmente identificados os dois lobos tireoideanos, ocasionalmente o istmo e raramente o lobo piramidal. Além da localização, dimensões e morfologia também é analisada a distribuição do radiofármaco pelo parênquima glandular, que é normalmente homogênea. Testes funcionais: A resposta funcional da tireóide pode ser analisada em diferentes situações. O teste de supressão é realizado após administração de T3 por 6-14 dias (100*g/dia), sendo usado para identificar áreas de funcionamento autônomo - captação independente dos níveis de TSH. Pode ser usado no diagnóstico de hipertireoidismo primário por adenoma ou bócio difuso tóxico, sendo considerado normal a redução maior que 50% na captação em relação a estudo basal. O teste de estímulo é feito após a administração de TSH (100 unidades/dia), permitindo a visualização de parênquima suprimido em estudo basal. A cintilografia com tálio-201 ou MIBI-Tc99m pode ser realizada com a mesma finalidade, pois a concentração tireoideana dos mesmos independe dos níveis de TSH. O teste de clareamento com perclorato consiste na medida de captação de iodo em 2 ou 4 horas, seguida da administração de perclorato (500 a 1000 mg) e novas medidas de captação por 60 a 90 minutos. O perclorato compete pela captação ativa nas células foliculares com o iodo não organificado, considerando-se que a queda de captação superior a 10-15% em relação ao valor inicial demonstra uma falha na organificação do iodo. Aplicações clínicas Tireóide ectópica: A cintilografia é utilizada no diagnóstico e localização da tireóide ectópica, mais importante causa do hipotireoidismo congênito. Além disto pode ser identificado extensão intratorácica da glândula em casos de bócio (bócio mergulhante). Nódulos: O método permite a caracterização funcional de nódulos (detectados por palpação, ultrasonografia ou pela própria cintilografia), sendo que a presença de nódulo único hipocaptante ("frio") corresponde a neoplasia maligna em 15 a 20% dos casos. Os nódulos hipercaptantes podem ser avaliados quanto a seu caráter autônomo pelo teste de supressão. Hipertireoidismo: As alterações morfo-funcionais da glândula são características para diferentes causas de hipertireoidismo, como a doença de Plummer (nódulo hipercaptante) ou de Graves (aumento das dimensões com hipercaptação difusa). Tireoidite: A cintilografia é utilizada na avaliação e acompanhamento morfo-funcional da tireoidite, principalmente em sua forma crônica. Em casos de tireoidite subaguda pode ser observada glândula hipocaptante associada a nível normal ou elevado de hormônios tireoideanos. Bócio: A cintilografia é indicada na caracterização funcional e acompanhamento de bócio uni- ou multinodular, tireoidite e bócio difuso. Pós operatório: O estudo cintilográfico permite a detecção e avaliação de remanescente cirúrgico após tireoidectomia total ou parcial. Nos pacientes submetidos a tiroidectomia total por carcinoma diferenciado a presença de metástases e rastreada através da cintilografia de corpo inteiro com Iodo-131 (ver abaixo). Terapêutica: Altas dose de Iodo-131 são empregadas no tratamento de hipertiroidismo (doença de Plummer, doença de Graves) ou de carcinoma de tireóide (ablação de restos, tratamento de metástases). O efeito terapêutico se dá porque o iodo-131 libera altas doses de radiação (incluindo radiação beta que provoca maior ionização e portanto maior efeito que a gama) nos tecidos em que é concentrado, levando a destruição ou interrupção da proliferação celular. |
|
|
4 - Cintilografia
das glândulas adrenais com MIBG
Radiofármaco: 131I-MIBG (meta-iodo-benzil-guanidina) O preparo consiste na suspensão de drogas que podem reduzir a captação do radiofármaco (labetalol, reserpina, bloqueadores do canal de cálcio, bloqueadores adrenérgicos, antidepressivos tricíclicos, simpatomiméticos, fenotiazínicos). Além disso o paciente deverá tomar iodo não radioativo por 5 dias antes até 5 dias após o estudo, visando saturar a tireóide e evitar a captação de iodo radioativo (liberado pela eventual desmarcação do fármaco). As imagens são habitualmente realizadas nas incidências anterior e posterior de corpo inteiro de 24 a 72 horas após a administração endovenosa do radiofármaco. O MIBG (meta-iodo-benzil-guanidina) é um análogo da guanetidina de estrutura semelhante à noradrenalina, sendo captado e armazenado em tecidos de linhagem neuro-ectodérmica pelo mecanismo de captação de aminas. Aplicações clínicas Feocromocitoma: O diagnóstico é habitualmente realizado pelo quadro clínico-laboratorial. A cintilografia tem papel complementar na localização do tumor, principalmente em casos com tomografia e ultrasom inconclusivos ou na suspeita de feocromocitoma extra adrenal, bilateral, metastático ou recidivado. A sensibilidade e especificidade se encontram na faixa de 85 a 90%. Neuroblastoma: Indicado na caracterização funcional de massas suprarenais em crianças, assim como no estadiamento e acompanhamento evolutivo de casos já diagnosticados ou tratados. A cintilografia óssea com MDP também é indicada no estadiamento. Outros tumores de linhagem neuroectodérmica foram estudados com MIBG, porém com menor sensibilidade: tumor carcinóide, carcinoma medular de tireóide,insulinoma, gastrinoma,etc. Outro marcador adrenal utilizado com menor frequência pelo seu alto custo e menor disponibilidade é o Se-75-colesterol (selênio-colesterol). A captação do colesterol marcado reflete a síntese de hormônios pelas adrenais, podendo ser utilizada na investigação de síndrome de Cushing e adenomas, em situação basal ou com supressão por dexametasona. As imagens são realizadas entre 2 e 10 dias da administração do radiofármaco na incidência posterior de abdómen. |
|
|